A INFLUÊNCIA DE MATO GROSSO
NA LITERATURA BRASILEIRA
Graduado em leis por São Paulo, em 35,
Antônio Navarro de Abreu seria porventura o primeiro da lista dos que
honraram o nome de sua gente na incipiente Escola de Direito.
Eleito deputado, antes de findo o mesmo ano, impôs-se, pela fogosa eloqüência,
ã admiração dos pares, que o viram no crepúsculo
da regência, participar dos maiores debates da época.
Decorridos dois anos, completa o seu curso jurídico José da
Costa Leite Falcão, que adquiriu renome de doutor e advogado sagaz,
figura representativa em Cuiabá, onde fez de sua casa um centro de
cultura.
Quando já ia em meio o século, conheceu a academia paulistana
Joaquim Mendes Malheiros, que sabia distribuir o seu tempo em serenatas, tentativas
de pintura, torneios de esgrima, estudo de línguas e de disciplinas
escolares, que o habilitaram a exercer o magistério na Escola Militar
e no Colégio Pedro II, onde manteve a sua fama de orador consumado.
Aliás, não seria Malheiros o único representante da sua
terra entre os catedráticos do ensino superior, aos mais eminentes
dos quais se emparciravam Prudêncio Giraldes Tavares da Veiga Cabral,
lente de direito civil e administrativo em São Paulo, desde 29, em
torno de quem a lenda teceu episódios singulares, rememorados na biografia
que lhe consagrou Palmyro Pimenta, em confe-(p.40)rência {conferência}
primorosa, Joaquim Murtino, que, mais tarde, egresso da cadeira de biologia
na Escola Politécnica, iria iluminar a política administrativa
da República Brasileira com suas doutrinas financeiras, esteadas em
firmes convicções filosóficas, Manoel Corsino de Amarante,
contemporâneo de Benjamin Constant, que lhe respeitava o saber matemático,
embora orientado por princípios opostos aos que professava, abrazando
o entusiasmo da mocidade, Souza Lima, que soube dignificar o ensino da medicina
Legal na Faculdade da paria de Santa Luzia.
Não haverá escola superior que não haverá premiado,
algum dia, o saber dos mato-grossenses, propagado pelas palavras; com o qual
manifestavam seus pendores literários, por maneira diversa dos contemporâneos,
freqüentadores da imprensa, a que também confiaram as suas fantasias
os românticos, fiéis imitadores de Casimiro de Abreu, que punham
em versos as suas mágoas, antes de se extinguirem em plena mocidade.
Com 20 anos apenas, baqueia Francisco Catarino, cujas produções
denunciavam formoso talento, mais três anos viveria Tomás de
Almeida Srra, o seu grande sonho poético, a que sobreviveram Amâncio
Pulchério, João Marciano, José Delfino, Pedro Trouy,
cujo legado literário cuida a Academia mato-grossense de reunir para
trazer a publicidade.
É o jornalismo, todavia, que empolga as mais vivas inteligências,
tanto as forasteiras, cultivadas alhures, da têmpera do Padre Ernesto
Camilo Barreto, capaz de promover a demissão do Presidente da província,
com os seus editoriais de J. J. Rodrigues Calhao, fundador do famoso jornal,
que lhe cultuaria a memória, como os que não arredam pé
de Cuiabá, e os nativos que andaram pelos centros litorâneos
a cata de ensinamentos.
Aos bacharéis de direito da valia de Corrêa do Couto, Caetano
Xavier, Fleury, Aquilino do Amaral, Arnaldo Novis, Ferreira Mendes, J.M. Metello,
Costa Ribeiro, (p.41) parceiravam-se os engenheiros do naipe de Manoel Esperidião,
Antônio Corrêa, Caetano de Albuquerque, militar doutrinário
de preferência. Entre os demais sobrelevou Pedro Celestino, cuja improvisação
jornalística, alicerçada em firme cultura geral e bom senso
atilado, lhe valeu mais de uma vitória contra abusos governativos.
Maior avulta a série dos auto-didatas, que, desprovidos de diplomas,
além do secundário, lograram acolhimento na imprensa, a que
serviram cm desvelo.
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