A INFLUÊNCIA DE MATO GROSSO NA LITERATURA BRASILEIRA

De um Karl von den Steinen, sabe-se, porque assim referem os anais mais afamados de ciência especializada, que lá colheu elementos, com que fundamentou a doutrina etnográfica.
A outro, botânico da fria Suécia, Carl Axes Magnus Lindman, o sol cuiabano abrasou-lhe a simpatia amistosa de tal maneira, que jamais se esqueceria da terra promissora, lembrada em sua correspondência, redigida em francês, e nas cartas de uma das filhas do casal constituído mais tarde em Stokolmo, e a quem mandou ensinar o idioma camoniano para melhormente escrever aos padrinhos cuiabanos a palavra que lhe é peculiar: saudade.
Facilmente se alongaria o rol por dezenas de nomes conspícuos, mais ou menos arrevezados, se não minguasse o tempo, que a simples enumeração dos seus trabalhos reclamaria.
A terra mato-grossense, que tão fortemente se impregnou na retentiva de forasteiros emotivos, não deixaria de inspirar aos seus próprios filhos o amor às letras, por meio das quais a glorificassem, evidenciado logo progressivamente, a medida que a instrução, lhes proporcionasse os meios adequados à expressão.
Assim, na era colonial, não obstante minguada de estabelecimentos de ensino, avulta entre os seus parceiros o Padre José Manoel de Siqueira, que filho de sertanista, transpõe o Atlântico, em busca de ilustração, e, de regresso, traz credenciais que o habilitavam a ser professor de filosofia e escritor, além de naturalista, sócio da Academia Real de ciências de Lisboa, a que enviou as suas memórias acompanhadas de aquarelas desenhadas a primor.
Quando sucumbe na província, em que se transfigurava (p.38) a capitania, com a independência, já seria maior o número de tonsurados de apreciável cultura, entre os quais sobressaía o padre Alves de Arruda, gabado pelos contemporâneos, como depõe Hércules Florence, que atesta em outra passagem, ao descrever Cuiabá e sua gente: “Conheci um padre de cor parda, muito eloqüente no púlpito e na conservação; outro quase negro era um desses raros talentos modestos, cuja ambição única é instruir-se”.
Por essa época, honrava-se o clero de contar em seu meio o padre José da Silva Guimarães, comissário geral, e o Bispo D. Luiz, na Junta Governativa Provisória, deposto do governo.
Desde então, não se afasta duramente do tablado público, apesar das agitações contemporâneas.
Elevado a Presidência da província, patentearia a sua orientação em dois conceitos acordes com as idéias românticas do tempo.
Ao pleitear a verba para organizar a topografia oficial, afirma: “A imprensa é, nos países constitucionais, favorável aos homens de bem e funesta aos maus; é o terror dos tiranos e a salvaguarda dos oprimidos”.
E em assunto correlato, quando patrocina o projeto da fundação de uma Escola Normal em Cuiabá:
“A educação é uma verdadeira natureza: ela obriga o homem a deixar as inclinações perversas, e prepara desde a infância o cidadão, que deve um dia servir a sua pátria”.
A atividade política não o privou de elaborar memórias que lhe dariam ingresso no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, como autor do ensaio a respeito dos Apiacás, por ele enviado aquela sociedade de cultura.
Provou José de Mesquita, baseado em documentos descobertos por Barbosa de Faria, que o estudo interessante dos índios dos Arinos, em vez dos nomes do cônego, deveria trazer o de seu irmão, Capitão-Mor João José Guimarães e Silva, que o compôs por ordem de Magesi, derradeiro capitão-general de Mato Grosso.
Descontado, embora, esse título, ainda sobejarão provas intelectuais, que justifiquem a admissão de Silva Guimarães, no sodalício dos sabedores da história brasileira e ciências correlatas, onde teria por colega, além do Bispo D. José dos Reis, sagrado santo pela decisão dos seus diocesanos, jovem cuiabano de mais recente geração.

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