A INFLUÊNCIA DE MATO GROSSO NA LITERATURA BRASILEIRA

Ramiro de Carvalho, temido pela sua mordacidade, J. Barnabé de Mesquita (senior), que, ainda na monarquia, propugnava a educação da mulher, por meio da qual lhe previa a emancipação, e pregava idéias sadias, José Magno da Silva Pereira, Generoso Ponce, na fase áurea d’O Republicano, Francisco Agostinho, Vital de Araújo, José Estevão, constituíram a falange mais conhecida de polemista ardorosos, a que se reuniriam, em período ulterior, individualmente expressivas, Vieira de Almeida, temperamento literário, que andou por Santos e lá se distinguiu pelas suas crônicas, polvilhadas de poesia e alocuções inflamadas, ao tempo de cotes agitações populares, Frederico Prado de Oliveira, que - Beranger cuiabano, - preparou, com as suas canções ao gosto do povo, o ambiente propício à deflagração de triunfante movimento revolucionário, de que seria, depois, um dos mais eficientes colaboradores, João Cunha, a modéstia personificada, que só agia através dos seus escritos opulentos de seiva e de boas terras.
A enumeração que somente dos emudecidos pela morte, pois que os vivos constituem legião incontável, poderia sobremaneira alongar-se, caso se abranger todos quantos revelaram, pela pena, a capacidade clara de expressar seus pensamentos ou emoção, em verso ou prosa.
Em geral, porém, escasseia a documentação a respeito. Não enfeixaram em volumes as suas produções efê-(p.42) meras {efêmeras}. E as gazetas sumiram-se, com limitas exceções.
Só neste século, firma-se a orientação propiciadora da divulgação dos trabalhos literários, que a revista “Mato Grosso” acolhe em suas páginas duradouras, onde afloram prosadores e poetas, à sombra do parnasianismo, então dominante, apesar da reação simbolista.
Sucede-lhe, com breve interrupção, à sombra do prestígio de D. Aquino Corrêa, que a ampara, feito príncipe das letras mato-grossenses, a associação primitivamente denominada “Centro” hoje “Academia”, cuja revista, de 22 tomos com aquele título, e 10 na fase atual, constitui nítido espelho da cultura regional, consoante evidenciou a palavra conceituosa de José de Mesquita, perante o Congresso das Academias.
Dispensável repetir-lhes as apreciações, que sintetizaram a conceito as atividades mentais dos mais expressivos representantes da sua geração, a cujos anseios intelectuais deve o Estado a fundação do Instituto Histórico de Mato Grosso, mantenedor de uma revista semestral, já em seu 38º número, da referida Academia mato-grossense de Letras, de comprovado devotamento aos seus propósitos fundamentais de expressão cultural, e do Grêmio Julia Lopes, de iniciativa feminina, também destinado a análoga objetivos.
Já nas letras despontou outra, que lhe herdará os encargos de acrescer as conquistas assinaladas, não obstante orientada ainda por imperativos antagônicos.
Traz, como toda geração nova, que sente, em si própria, energia bastante para avançar, veleidades de reformas, que vão, das cogitações sociais repassadas de significativo sopro de revolta, as expressões literárias libertas de contrições parnasianas.
As suas idéias e alusões espelham-se às maravilhas no resumo elaborado para o Anuário Brasileiro de Literatura por Lobivar Mattos, poeta modernista, que já se tornou conhecido nos meios intelectuais cariocas, aos (p.44) quais apresentou seus parceiros, tocados da mesma inquietação irreverente, e as aspirações inovadores, que os encaminharão sem demora para as atividades políticas.
Ao passo que os veteranos de preferência concentram-se em Cuiabá, capital de tradições bi-seculares, ensaiam os jovens os seus vôos em Campo Grande, cidade de ontem, gerada por assim dizer pela Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que ali inaugurou o seu tráfego em 1914.
Enquanto a primeira mergulha as suas raízes na era do bandeirismo afoito, a outra surge na atualidade, para viver a hora que passa, despreocupada dos tempos idos e vividos.


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