ASPECTOS DA LITERATURA DE MATO GROSSO
E os madeiros, em fila, ao vento frio,
Vão boiando, boiando lentamente,
Debruçados, tristonhos sobre o rio...
Passam, e a noite cai, pura e silente...
Passam... e depois fica o fugidio
Manto de espuma aberto na corrente.
Evocarei um outro poeta, este já da nossa saudade porque caminheiro
da derradeira viagem - Leônidas de Matos, cujos versos lembram a harmonia
e a delicadeza de Avares de Azevedo e Antônio Nobre pela ‘simplicidade
quase bíblica, comovendo sempre pela doçura melancólica
e estranha que neles transparece.
É uma jóia o soneto que vou ler:
Só
Triste nasci. Amargos dissabores
Emagreceram minha mocidade.
Da sorte vou sofrendo seus ardores
Nesta vida de tédio e iniqüidade.
Fui feliz algum tempo. Tive amores.
Sonhei gloria e sonhei felicidade!
Hoje passo chorando as minhas dores
Na lira soluçante da saudade... (p.150)
Sem fé, sem esperança, abandonado,
Para sempre do gozo desterrado,
Tendo no peito a mágoa indefinida!
Com Ashvirus, místico, lendário
Véu seguindo, tristonho e solitário,
A caminho do Golgotha da vida!...
Leconte de Lisle, no seu discurso pronunciado sobre Victor Hugo, na Academia
Francesa, disse com razão: “Victor Hugo é antes de tudo
e sobretudo um grande e sublime poeta. Soube mudar a substância de tudo
em substância poética, o que constitui a condição
expressa e primeira da arte, único meio de escapar ao didatismo rimado,
negação absoluta de toda a poesia.
Poeta, e de alta inspiração, foi Leônidas de Matos e os
seus versos - “Do ocaso e o silencio” - bem poderiam figurar entre
os de Guimarães Passos ou Antônio Nobre.
Leônidas, como Guimarães Passos, não se filiava a escola
nenhuma. Fazia versos e rimava-os com facilidade natural de um pássaro
que canta como o “Rouxinol” do conto de Oscar Wilde.
Sua alma era poesia, e como a água límpida de um regato que
corre era a harmonia dos seus versos.
Ouvi, senhores, estes versos admiráveis:
Do Ocaso e do silêncio
Nas horas derradeiras
do Sol morrer, o Ocaso, evocativo,(p. 151)
parece uma paisagem simbolista...
é violeta... é sangue... é ouro vivo...
Tem a cor da Saudade e da Ametista
das plangentes olheiras...