O primeiro livro de poesia de Rubens de Mendonça, Garimpo
do meu sonho, é publicado no mesmo ano em que surge a revista
Pindorama com a proposta de discutir o Modernismo em Mato Grosso.(2001,
112)
Em Descobrindo o Modernismo, Hilda Gomes faz uma análise do perfil
cultural de Cuiabá que gozou de fama de cidade culta, conforme
afirma Monteiro Lobato ‘A elite de Cuiabá é muito
fina. Cuida bastante da educação. Abundam homenagens de
linda cultura, até filosófica.’ Das questões
iniciais apresentadas para discussão, nesse capítulo,
um ponto merece destaque, a avaliação do cenário
cultural realizada por Lenine Póvoas:Lenine sustentava a idéia
de que enquanto Cuiabá permaneceu isolada dos grandes centros
do País (término da Guerra do Paraguai até a Revolução
de 30), viveu intenso brilho e notável desenvolvimento cultural,
com a criação de um grande número de entidades
de ensino, associações culturais, dentre elas o Instituto
Histórico e Geográfico de Mato Grosso e a Academia Mato-grossense
de Letras. (2001,122).Com a melhoria dos meios de transportes e de comunicação,
Cuiabá passa por processo de estagnação em suas
atividades culturais. Para Póvoas o crescente interesse pelas
terras mato-grossenses e a conseqüente valorização
mobiliária teriam feito com que o povo se descuidasse de suas
tradições de cultura. Entretanto, Hilda Gomes observa
que, no que diz respeito à literatura propriamente dita, é
exatamente a partir de 1930 que essa atividade começa a florescer
no Estado (...) (2001,122)
Em 1939 surge a revista Pindorama, tendo como seus idealizadores Gervásio
Leite, Rubens de Mendonça e João Batista Martins de Melo.
Posteriormente, surge o Movimento Graça Aranha em Cuiabá,
com as revistas O arauto da juvenília (dirigida por Silva Freira)
Ganga (Wlademir Dia Pino e Rubens de Mendonça) e Sara(Wlademir
Dias Pino) movimento que mingua fracasso e impõe o isolamento
dos escritores mato-grossenses. Nesses dois momentos, revista Pindorama
e a geração de 50, são descobertos escritores importantes
no cenário literário de Mato Grosso como Manoel de Barros,
João Antonio Neto, Waldemir Dias Pino, Silva Freire, Lobivar
de Matos, responsáveis pela introdução do Modernismo
em Mato Grosso. Ainda mo mesmo capítulo, Hilda Gomes da maior
destaque para poesia de Lobivar de Matos, denominado pela autora pré-moderno.
O próximo capítulo, intitulado Dialogando com a estética
50 e 60, a autora apresenta motivos históricos como a início
da divisão do Estado, políticas de apoio à agropecuária
em Mato Grosso, e o fluxo migratório de sulistas e gaúchos
para o Estado, como também o aumento da população
do Estado, como impulsionadores do fluxo da produção literária
de Mato Grosso. Recebem destaque os escritores Cavalcanti Proença,
com as obras Uniforme de Gala (1953), O alferes, publicado postumamente,
Ritmo e poesia (1956), No termo de Cuiabá (1958), Augusto dos
Anjos e outro ensaios (1959), e Manuscrito holandês ou a peleja
do caboclo Mitavaí com o monstro Macobeba (1959); Wlademir Dias
Pino com o livro A fome dos lados, A máquina de ri, Os corcundas,
A máquina ou a coisa em si, A ave, Sólida,Poema espacial,
Elementos; e Ricardo Guilherme Dicke.
Dessa fase da produção literária em Mato Grosso,
o romancista Ricardo Guilherme Dicke é o maior destaque, publicou
Deus de Caim (1968), Caieira (1977), Madona dos Páramos (1982),
O último horizonte (1988), A chave do abismo, Cerimônia
do esquecimento (1995), Salário dos poetas (1999) e Rio abaixo
dos vaqueiros (2000). Ganhou vários prêmios de literatura,
por comportar uma composição densa, unindo o filosófico,
o religioso, o sagrado, o profano compondo o universo humano. O último
capítulo da História da Literatura de Mato Grosso, século
XX, Nas trilhas da contemporaneidade: anos 70 a 90, traz a divisão
do Estado de Mato Grosso que com nova fisionomia geográfica e
política, viveu maior intercambio com São Paulo. Por outro
lado, houve incentivo e financiamentos aos latifúndios, levando
à miséria o pequeno produtor. SUDAM, BASA, SUDECO foram
os programas federais de incentivo aos latifúndios, acarretando
o aceleramento de migrações maciçamente sulistas
para Mato Grosso. O novo cenário artístico-cultural se
faz nesse período, destacando-se escritores como Marilza Ribeiro,
Tereza Albuês, Hilda Gomes, Padre Antonio Rodrigues Pimentel,
Flávio José Ferreira, Aclyse de Matos.
Os nomes elencados acima indicam uma maior presença da mulher
no cenário cultural do Estado, o que não ficava tão
evidente em décadas anteriores, e a presença do romance
como gênero que resiste ao século XX, sobretudo, para a
história de uma literatura que se fez de Poesia. Parece que a
História Literária de Hilda Gomes afirma a lírica
como o gênero que mais se realizou e que nos constitui enquanto
identidade literária e cultural.
A História Literária publicada por Hilda Gomes Dutra Magalhães
é o registro sério e imprescindível para se conhecer
e entender as profundas transformações históricas
e literárias sofridas por um Mato Grosso diviso.
BIBLIOGRAFIA
MAGALHÃES, H. G. D. História da Literatura de Mato Grosso,
século XX. Cuiabá: UNICEM, 2001.
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