A poesia mato-grossense na historiografia
de Rubens de Mendonça.
Todos os poetas citados na obra apresentam pouca produção,
o que segundo Rubens de Mendonça se justifica diante da dificuldade
de publicação na época. A historiografia do autor, nesse
sentido, traz testemunho dos problemas que afligem o escritor fora dos grandes
centros. Tratando da genialidade de Gervásio Leite, por exemplo, o
historiador afirma: “vivesse em outro centro, no Rio de Janeiro ou em
São Paulo, teria, pelo seu talento e cultura, projeção
internacional”.
Essa questão que o historiador nos coloca e nos instiga à reflexão
estende-se a um outro aspecto, ainda mais ressaltado na obra, uma vez que
acaba constituindo seu estilo: o aspecto regionalista.
O estilo como uma necessidade, conforme argumenta Roland Barthes, “amarra
o humor do escritor à sua linguagem”, onde ele poderá
encontrar a “familiaridade da História e seu próprio passado”.
O regionalismo, nesse sentido, está presente na preferência pelos
poemas que trazem a paisagem da região incorporada à mensagem,
como também presente no modo compromissado pelo qual o historiador
trata seu Estado e sua literatura. A memória do escritor forma seu
estilo e informa sua escrita.
O enfoque na literatura como missão foi adotado pela historiografia
que se formava no Estado, o que justifica o tratamento dispensado por Rubens
de Mendonça:
“Nós damos, em nosso trabalho, preferência sempre para a página do escritor em que fala das nossas coisas. É que Mato Grosso é um Estado quase sem propaganda. Daí o motivo por que transcrevemos sempre o que fala do nosso folclore, das nossas paisagens, da nossa história, dos nossos costumes”. (p. 138)
O nacionalismo crítico no início da literatura brasileira constituiu
fator de eficácia estética e, para crítica, foi recurso
ideológico compreensível em uma “fase de construção
e autodefinição” (CANDIDO, 1981, p. 29).
A crítica literária nacional superou esse momento de afirmação
em que foi necessário pôr à prova a literatura enquanto
expressão da cultura e alma nacional, mas no período vivenciado
por Rubens de Mendonça o compromisso literário com o contexto
social e mesmo com a geografia da região foi necessário como
preservação da memória cultural.
Pensar a formação da literatura mato-grossense com os mesmos
critérios que explicam a formação da literatura nacional
ajuda a explicar o sentimento de missão que marca desde os primeiros
autores até os modernos. Segundo Candido, por esse sentimento de missão
explica-se o rigor, a contensão emocional e, ao mesmo tempo, a acentuada
vocação aplicada dos nossos escritores, “por vezes verdadeiros
delegados da realidade junto à literatura” e com pouco “da
gratuidade que dá asas à obra de arte”. Assinala Candido:
“Aliás, a coragem ou a espontaneidade do gratuito é prova de amadurecimento, no indivíduo e na civilização; aos povos jovens e aos moços, parece traição e fraqueza” (1981, p. 27).
A historiografia de Rubens de Mendonça vai nos mostrar que a história
de uma literatura recente, em formação, não poderia prescindir
das características da região e sua paisagem local.
Na análise da poesia romântica, torna-se mais evidente essa preocupação.
O Romantismo foi o primeiro movimento literário apresentado por Rubens
de Mendonça que dele extrairá grande leva de poetas e prosadores.
As associações que vão anteceder à Academia ainda
estavam impregnadas pela alma romântica, em um ambiente favorecido pela
cidade, conforme assinala Rubens de Mendonça :
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