História da Literatura de Mato Grosso, século XX

Ainda nesse capítulo, Hilda Gomes salienta o surgimento de associações teatrais. Em 1867, Joaquim Ferreira Moutinho faz referências a uma Companhia Central de acionistas, organizada por Dr. De Lamare, com o objetivo de dotar Cuiabá de um teatro. (2001, 34), dentre elas A Sociedade Dramática Amor à Arte, com 62 sócios, que sobrevive a duas construções do teatro em Cuiabá, e Sociedade Escola Dramática , de 1883, fundada por Joaquim Bartolino Proença, é a segunda associação importante em Mato Grosso, no cenário do século XIX.
Hilda Gomes destaca que dessa época o único documento que sobreviveu foi a Crítica das festas, que analisa as festividades realizadas em 1790, em comemoração ao aniversário do ouvidor de Cuiabá, Dr Diego de Toledo Lara Ordonhes, considerado o primeiro documento de crítica teatral do Brasil. (2001,36). Um cenário que vai mudar consideravelmente ao longo do século XX, período em que o teatro passa ser restrito aos salesianos. O espaço cultural em Mato Grosso registra, nas duas primeiras décadas do século XX, a criação do Clube Internacional de Estudos Científicos (1904), dos grêmios literários Olavo Bilac, Álvares de Azevedo (1911), Julia Lopes (1916), e do Centro Mato-Grossense de Letras (1921). Difusão de jornais e revistas literárias nas décadas de 1910 e 1920 como Automatismo, O Colibri, O Cruzeiro, A Juventude, A Letra, O Mato Grosso.
Na seqüência do capítulo, Hilda Gomes Dutra passa a tratar da Literatura nos dois primeiros decênios do século XX, dando destaque à produção poética cristã e patriótica de Dom Aquino, José de Mesquita, Zé Capilé e Arlinda Morbeck.. Quatro poetas que produzem no mesmo período, apresentando diferenças quanto aos perfis temáticos. Dom Aquino é poeta de formação clássica, de modelo parnasiano busca seu ideal de belo nas letras como se pode constatar, a perfeição formal é, para Dom Aquino, o objetivo que todo poeta deve almejar. Em sua poesia são caros e essenciais o rigor formal, o purismo lingüístico, o léxico erudito e a nobreza temática, emblemas inabaláveis do Parnasiano. (2001, 41). A autora observa que a poesia de Dom Aquino estabelece compromisso com a Pátria e com a terra mato-grossense desde Odes, Terra Natal de 1919.
Outro importante poeta é José de Mesquita, fundador juntamente com Dom Aquino do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e a Academia Mato-grossense de Letras. José de Mesquita é autor de sete livros de poema: Poesia, Terra do berço, Epopéia mato-grossense, Três poemas da saudade, Escada de Jacó, Roteiro da felicidade e Poemas do Guaporé. São três os livros de conto: A cavalhada (1928), Espelho das almas e No tempo da cadeirinha (1946). José de Mesquita idealizou uma trilogia de romances, sendo que apenas Piedade foi publicado em 1937. Assim como Dom Aquino, José de Mesquita escolhe o modelo parnasiano, embora proponha uma poesia mais reflexiva, mais filosófica de caráter didático, segundo Hilda Gomes.
A autora consegue ao falar da poesia de Dom Aquino e José de Mesquita, trabalhar com a produção desses dois importantes poetas de Mato Grosso. Temos poemas inteiros e fragmentos de contos transcritos ao longo do capítulo; o que permite, ao leitor, iniciar um contato com a produção desses autores, e não menos relevante, visualizar questões encaminhadas por Hilda Gomes ao perfilar uma trajetória da literatura mato-grossense. Da poesia religiosa à poesia satírica de Zé Capilé, de vertente política, ao tema do amor e da angústia da poeta Arlinda Morbeck, a primeira mulher, senão única, que se tem conhecimento, produzindo no início do século XX. Hilda Gomes observa que a concepção de literatura de Arlinda Morbeck passa antes por um processo de personalização do livro, visto como companheiro, como confidente. (2001,81). Em nenhum outro momento da poesia mato-grossense, desse período, encontramos o amor obsessivo, a solidão e a angústia como temas.
O clássico e o moderno: décadas de 1930 e 1940, nesse capítulo a autora discute o Modernismo em Mato Grosso, arrolando transformações históricas e políticas como a colonização do sul do estado, realizado pelo Programa de Integração Nacional, de Getúlio Vargas. A autora destaca na produção literária desse momento, Hélio Serejo, escritor sul-mato-grossense que traz uma produção que descortina ao leitor um mundo caboclo, cruel, mas grandioso, em suas cores originais: o autor no revela a linguagem do sertanejo, seus medos, suas crenças, suas dificuldades cotidianas, principalmente, sua força e sua filosofia. (2001,104) Hilda Gomes destaca na produção de Hélio Serejo: Zé Fornalha, O Carreteiro de minha terra, Mãe Preta.
É retomado, nesse mesmo capítulo, o teatro mato-grossense, produzido no século XX com destaque para Padre Raimundo Pombo. Desse autor, Hilda Gomes cita Caduquices de avô, A múmia de Tibiriçá, Educação Moderna, O sinal misterioso e Herói hodierno. Rubens de Mendonça volta a ser estudo, neste capítulo, agora como poeta autor de Garimpo do meu sonho, No escafandro da vida, Dom pôr do sol.

 

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