A poesia mato-grossense na historiografia de Rubens de Mendonça.

“O ambiente propício de Cuiabá, da época, talvez o oferecesse em seu meio, mais ou menos à semelhança de São Paulo, por volta de 1830. Sem a clássica garoa da paulicéia e sem sua tradicional faculdade de Direito, por onde passaram os grandes vultos do país ( ...). Cuiabá, na sua penumbra também oferecia um aspecto romântico, era campo propício para as boêmias discretas de jovens talentosos”. (2005, p. 117)

Esse ambiente romântico somente iria sofrer alterações com a chegada do Parnasianismo. Segundo o historiador, o período que vai de 1932 a 1937 representa para Mato Grosso um século de evolução literária. Nesse período o Centro das Letras Mato-grossenses passa a ser a atual Academia Mato-grossense de Letras, coincidindo com o início tardio do Parnasianismo no Mato Grosso. Ciente do atraso literário vivenciado pelos escritores, o historiador afirma que “até 1932, os nossos poetas rimavam vilancetes”.
O primeiro nome de evidência, após o Romantismo, é o de Otávio Cunha Cavalcanti, parnasiano, autor de “jóias da poesia nacional”, conforme nos informa Rubens de Mendonça. Há muito da estética romântica em boa parte dos poetas parnasianos citados que acabam por ressuscitar imagens famosas dos “mares bravios” dos poetas românticos.
Mesmo nos versos parnasianos, há a preocupação ou devoção à paisagem. O regionalismo define o poético para o poeta e para o crítico. As Bucólicas cuiabanas de Arnaldo Serra exemplifica esse tipo de preocupação.
Parnasiano famoso, mais do que os demais citados foi Dom Francisco de Aquino Correa. Rubens de Mendonça ressalta sua descendência ou tradição literária enquanto homem da Igreja e das Letras; por outro lado reconhece que a situação clerical limitou sua arte de fazer versos à poesia épica e religiosa. Destaca ainda o orgulho do poeta cuiabano que em viagem à Suíça escreveu um poema referindo-se à terra natal. Imagens românticas da paisagem idealizada são ressuscitadas:

Vejo tudo isto, e sonho a minha terra
Tão virginal, ao sol, que a beija e doura,

Ulisses Cuiabano, por sua vez, primeiro poeta mato-grossense a escrever o Haikai, dedicou-se também ao estudo do folclore, deixando vários ensaios; pertenceu à Academia Mato-grossense de Letras. O poema transcrito, Garimpeiro das rimas, faz alusão direta à poesia de Rubens de Mendonça em Garimpeiro do meu sonho e à obra Cascalho da ilusão. O poema de Ulisses Cuiabano nos remete a uma profissão de fé, ao gosto de Bilac.

Garimpeiro viril rebusca, em dura lida,
Esmeralda e rubim, topázio e gemas caras.

José de Mesquita também é classificado como parnasiano, mas somos informados pelo historiador que o poeta evoluiu para versos modernos, como por exemplo em Ritmos novos. Rubens de Mendonça descreve a formação de José de Mesquita e sua importância para o cenário mato-grossense, enquanto poeta, historiador, romancista e jornalista, fundador da Academia e participante ativo de todos os movimentos culturais do Estado.
Sobre o Simbolismo mato-grossense, o historiador não apresenta um número representativo de poetas, como foi possível no Romantismo. O Simbolismo no Estado, assim como no restante do país, não teve a repercussão e aceitação que esperávamos. Os simbolistas citados pelo historiador foram: Pedro Medeiros, Franklin Cassiano da Silva, Oscarino Ramos e Leônidas Antero de Matos.

 

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