Este
site é resultado do projeto de pesquisa Difusão da Literatura
Mato-Grossense, desenvolvido pela Universidade do Estado de Mato Grosso,
coordenado pela professora Dra Walnice Vilalva, com objetivo de disponibilizar
aos estudantes, professores e leitores em geral, textos em prosa e
verso, publicados desde Brasil colônia em Mato Grosso. O trabalho
de levantamento de obras foi iniciado em setembro de 2004 e seguiu
as trilhas registradas pela História da Literatura mato-grossense
e Poetas Bororos ( de Rubens de Mendonça) e História
da Literatura de Mato Grosso, século XX ( de Hilda Gomes Dutra
Magalhães). Pesquisamos os acervos da biblioteca da Casa Barão
de Melgaço e a Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro.
Não fizemos nenhuma seleção a não ser
a seleção já proposta pelas pesquisas de Dra.
Hilda Gomes e Rubens de Mendonça. Temos texto desde Mato Grosso
em Brasil colônia, com o poeta José Zeferino de Mendonça
até escritores que estão publicando em nossos dias.
Nesta pequena amostra da produção literária brasileira
não fazemos avaliação quanto à qualidade
literária ou histórica dos textos. Deixamos isso aos
leitores e pesquisadores. Mas reconhecemos que há muito a ser
lido e estudado neste pedaço do Brasil.
Dentro deste site organizamos a revista eletrônica Alere (cadastrada
no CNPq) para divulgar estudos e pesquisa sobre a Literatura Brasileira.
Prestamos homenagem, com este site, a Rubens de Mendonça por
reconhecer a inestimável contribuição de sua
pesquisa às letras mato-grossenses.
Expressamos nossos sinceros agradecimentos à pesquisadora Dra.
Yasmin J. Nadaf e ao Presidente da Academia Mato-grossense de Letras
Carlos Gomes de Carvalho.
Literatura
Mato-Grossense
Por Walnice Vilalva
Em
busca da Literatura Mato-Grossense é a pertinente discussão
que Dra. Hilda Dutra Magalhães traz como título do primeiro
capítulo da História da Literatura de Mato Grosso -
século XX. (2001, p. 15) Pertinente pelo sério questionamento
levantado “Existe uma Literatura em Mato Grosso?”, e pelo
desdobramento de argumentos que a autora organiza na avaliação
da produção literária mato-grossense ao abordar
aspectos como a quantidade e qualidade de pesquisas e trabalhos sobre
o tema, o que levaria, segundo a autora, a concluir que inexiste literatura
em Mato Grosso. Afirmação grave, mas que reflete uma
realidade de esquecimento ou silenciamento fruto da cadeia problemática
autor-obra-leitor. Se avaliarmos essa tríade encontraremos
dois cenários de igual gravidade: o da produção
literária (autor) e o da produção de pesquisas
(leitores) que sinaliza a produção crítica sobre
a literatura. Que escrevemos pouco durante décadas sobre a
literatura produzida neste estado, isso é fato inquestionável.
Que lemos menos ainda também, e aqui talvez esteja a explicativa
para o fenômeno acima.
Antonio Candido discute a formação da literatura brasileira
a partir da compreensão de sistema. Para ele a literatura só
pode se realizar como sistema de obras ligadas por denominadores comuns,
que permitem reconhecer as notas dominantes duma fase ( Formação
da Literatura Brasileira, 2000, p. 23). A compreensão da literatura
como sistema implica relação existente entre produtores
literários, mais ou menos conscientes do seu papel (autor);
um conjunto de receptores, formando os diferentes tipos de público,
sem os quais a obra não vive ( leitor) ; e um mecanismo transmissor
(de modo geral, uma linguagem, traduzida em estilos), que liga uns
aos outros (ibdem, p. 23). Nessa reflexão sobre a Literatura,
que deve vir antes de qualquer debate, encontramos, na relação
autor-obra-leitor, a chave para a discussão sobre os rumos
de nossas letras. Ainda estamos em fase de formação,
e essa constatação exige a consciência de que
os fenômenos literários se repetem não harmonicamente,
ao contrário, são reflexos de questões históricas,
sociais e econômicas.
É notório que a Literatura Brasileira que se configura
no século XVIII, em seu processo formativo, que alça
vôos decisivos no Romantismo e, posteriormente, no Modernismo,
depois do qual se pode falar em Literatura plenamente constituída,
não tem o mesmo movimento em território brasileiro.
Temos e não temos uma literatura plenamente constituída.
Podemos afirmar que vivemos todas as fases, a fase de formação
que ainda persiste em regiões cuja relação autor-obra-leitor
é problemática em função de contextos
socioeconômicos, as chamadas regiões periféricas
( e aqui incluo a produção de Mato Grosso); e a fase
plena de uma Literatura madura que ostenta movimento de continuidade
autor-obra-leitor, e, principalmente, seus caminhos estéticos
inovadores. Nossa literatura repete fenômenos literários
em tempos diferentes e em espaços diferentes. O que faz com
que tenhamos Romantismo no início do século XIX ( São
Paulo/ Rio de Janeiro) e no século XX (por exemplo, em Mato
Grosso), ou, Parnasianismo no final do século XIX( São
Paulo/ Rio de Janeiro) e XX ( em Mato Grosso). O debate sobre periodização
é longo e complexo, todavia reflete limites que são
estéticos, sem deixar de ser histórico sociais conflitantes.
Mas como fica a cadeia produtiva autor-obra-leitor em Mato Grosso?
Onde estão os leitores da literatura produzida neste estado?
Ou será que são as obras que se escondem em prateleiras
de amigos e familiares esquivando-se do leitor comum? Esquecidas,
essas obras rompem o percurso da obra escrita (publicada).
Se houve um tempo de fundação de Clubes Culturais e
grêmios literários como Olavo Bilac (1908), Álvares
de Azevedo (1911), Júlia Lopes (1916), Castro Alves (1925);
e tempo ainda para fundação do Instituto Histórico
e Geográfico de Mato Grosso (1919) e da Academia Mato-Grossense
de Letras (1921)... tempo dO cruzeiro (Órgão dedicado
às Letras, pilherio e noticioso); da Escola (folha literária
jovial e crítica); A letra ( Órgão da Sociedade
Literária Rui Barbosa); O Mato Grosso (Revista Mensal de Ciência,
Letras e variedades); A Violeta ( Órgão do Grêmio
Literário Júlia Lopes; A Imprensa (periódico
literário), Pindorama... esse tempo já passou.. Em que
momento o silêncio passa a imperar como sinônimo de descaso
e incompreensão. Se é que podemos utilizar essas expressões.
Basta perguntar a qualquer aluno, seja ele do ensino médio
ou superior, quantos autores e textos da literatura produzida neste
estado ele conhece. É possível ver essa questão
por um outro ângulo: durante o período de 1950 a 2006,
qual a quantidade de pesquisas publicadas sobre a literatura mato-grossense?
Talvez fique mais fácil visualizar o que tentamos chamar aqui
de descaso e incompreensão.
Em 1970 Rubens de Mendonça publica a História da Literatura
mato-grossense, primeiro compendio da produção literária
de Mato Grosso. Decorridos dez anos, Lenine Póvoas publica
a História da Cultura mato-grossense, em 1980. Após
21 anos, Dra. Hilda Gomes Dutra Magalhães traz em 2001 a História
da Literatura de Mato Grosso, século XX, propondo sistematização
de obras publicadas ao longo do século XX. E considerável
a distância temporal entre as três pesquisas. Treze anos
após a publicação de Lenine Póvoas e oito
anos antes da publicação de Hilda Gomes, mais precisamente
em 1993, Dra. Yasmin Jamil Nadaf traz Sob o signo de uma flor, resultado
de pesquisa sobre a Violeta, do Grêmio Literário Júlia
Lopes. Em 2002, a mesma autora publica sua mais extensa pesquisa,
Rodapé das miscelâneas, e posteriormente, Diálogos
da escrita (2003); Presença de mulher ( 2004); Machado de Assis
em Mato Grosso (2006). Em 2005, Dr. Mário Cezar Leite, organiza
o livro Mapas da Mina, reunindo pesquisas sobre a literatura de Mato
Grosso. Carlos Gomes de Carvalho, Presidente da Academia Mato-Grossense
de Letras, lança Panorama da Literatura e da Cultura em Mato
Grosso (2004) e A Poesia em Mato Grosso (2003).
Nesse breve mapeamento, percebemos que não passam de 11 as
pesquisas publicadas durante 57 anos. O questionamento levantado por
Dra. Hilda Dutra Magalhães é pertinente na medida em
que expõe a problemática afirmativa sobre uma literatura
produzida em Mato Grosso. Penso que Dra. Hilda Dutra Magalhães
toca no ponto nevrálgico da questão, uma vez que nos
impele a reconhecer que o conceito de literatura passa antes pela
leitura.