Modelo

Vende-se um corpo de fêmea na tv!
Por mil reproduzido.
Exposta e em posto de revenda
Transformado.
O recado sendo valorado pelo
Mensageiro.
Na a função...
A forma.
O corpo da mulher sendo decoração.
Objeto de desejo.
Sonho de consumo.
Múltiplas figuras de uma mesma matriz.
Transfeita em ofertas e liquidações.
Vende-se um corpo de fêmea na TV!
Leve o produto mesmo que banal.

(Luciene Carvalho, Teia)

Crime e sentença

De tal dialética é feito o meu amor.
Já estava escrito que seria inexato.
Suspeito mesmo haver lógica no
Sentimento.
Mas, não no meu. Não no seu.
Nem sei se ajuda lógica no turbilhão.
Amor de riso e gozo.
Com festa e fogos de artifício.e sem que haja aviso.
Amor que se amedronta e espera
Em silêncio e desalento.amor de choro e saudade
Com culpa e desmantelo da alma.
Talvez eu seja campo de prova
De um amor de experimento.
Mas, nenhuma mulher teria tal amor
Impunemente.
Seguirei para sempre entre a eleita e a
Insana.
Permeada de deleites
E semeada de dor.

(Luciene Carvalho, Teia)

De silêncio e gozo

Meu bem amado acredita em
Aparências.
Que tolo é meu bem amado.
Tenho estado ao seu lado
Por uns cem anos, ou mais.
Jamais entenderei o seu silêncio...
Tenho navegado em seus braços,
Noites em que me fiz em pedaços
Despetalada de gozo.
Seu silêncio úmido...
E novo incêndio
Oh, meu bem amado!
O que é que houve de errado
No tempo de cada um?
Se não me restasse pelo menos a
Poesia
Qual seria o meu destino?
Naufragar no Dom Alquino
Sem entender o menino
Que reinventou o pecado.

(Luciene Carvalho, Teia)