ASPECTOS DA LITERATURA DE MATO GROSSO
Conferência pronunciada na primeira Hora Literária do “Grëmio
Álvares de Azevedo” no dia 23/05/1937, pelo Sr. Rubens de Mendonça,
Presidente do Grêmio Álvares de Azevedo.
Exmo Sr. Cap. Interventor Federal.
Exmo. Sr. Presidente da A.M.L.
Exmo. Sr. Presidente de Honra do Grêmio Álvares de Azevedo.
Meus Senhores
Foi o historiador Klaband, que assim, definiu a literatura de um povo: “A
Literatura de cada povo é ao mesmo tempo nacional e internacional.
Nacional, no sentido de que assenta no idioma, no que de mais seu povo pode
criar, e neste sentido ela sempre será e deverá ser nacional,
internacional, porque recebe as concorrentes espirituais, que lhe chegam de
outros povos, as retem, as utiliza para si e as passa adiante.” (p.
154)
Com o título de Epítome da história da Literária
de M.T, deu-nos o Sr. José de Mesquita, no primeiro número da
Revisa da AML, a mais perfeita pintura panorâmica da nossa vida mental.
Entretanto, há quem desmereça e oculte, por ignorância,
ou por malícia, o acervo da nossa intelectualidade.
Escreveu Ronald de Carvalho, a História da Literatura Brasileira, que:
“Um povo sem Literatura seria, naturalmente, um povo mudo, sem tradições
e sem passado, fadado a desaparecer como réles planta rasteira nascida
para ser pisada.” Mas um povo, como este, que possui uma história
cheia de heroísmo, uma tradição gloriosa, é também
um povo com uma literatura vigorosa e brilhante.
A afirmativa de que em Mato Grosso não se cultivam as letras, importa
no desconhecimento dos nossos poetas, D Aquino Corrêa, José de
Mesquita e Lamartine Mendes, trindade maravilhosa de parnasianos que tanto
orgulha a nossa terra.
D. Aquino, orador e poeta cheio de vigor, o seu verbo facundo é, como
no dizer de Arnaldo Serra: “o orador Mirabeau da santa crença”...
Outro é o cantor da Terra do Berço, excelso parnasiano que tão
bem evoca as nossas “coisas de Antanho”.
Tenho uma alma de rude primitivo
Cheia de nostalgia do passado,
E no presente a contragosto vivo
Como um pobre exilado
Disse alguns Buffon que o estilo é o homem, e nestes versos transparece toda a alma do poeta, e o seu acentuado culto ao passado, que o fez historiador de mérito e ao primeiro linhagista entre nós. Assim o vemos dizer:
A ALMA DAS VELHAS CASAS
No silêncio do pós-meridio grave e ardente
Entrei a velha casa onde vivera outrora,
Quando, ainda alma em flor e corpo adolescente,
Era luz, era ardor, era sonho, era aurora.
A sala ampla e deserta, a varanda silente,
Ecoam do meu passo ao ruído e, frio agora,
O quarto onde dormia é lúgubre e dolente
E o terreiro ermo e nu de rosas não se enflora
É seco o algibe. Chora uma rola num galho,
Abro o velho portão. Galgo a estéril, maninha
gleba de morro mal vestida de cascalho...
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